segunda-feira, 28 de março de 2011


Andar com a Poesia


Você conhece, eu também; todos sabemos de gente que se pergunta sobre a finalidade da poesia. Para que poesia? Faz-me lembrar um poeta que conheci em Paraty. Pelas ruas antigas da cidade, ao som de um romântico acordeom, declamava belos poemas e brincava: “Poesia não compra sapatos, mas como andar sem poesia?”

Andar sem a agradável companhia da poesia é fechar-se à escuta dos sussurros e apelos da vida, é não se permitir sensações que vêm da natureza, de lembranças e sentimentos da tenra infância, de pessoas que já partiram, lugares que visitamos; coisas que não conseguimos exprimir senão simbólica e poeticamente. Com suas funções revolucionária e redentora, a poesia permeia tudo o que é vida, persiste e persistirá ao longo dos séculos; não nos esqueçamos que o homem, em sua parte criatura, necessita sentir e contemplar a grandiosidade do mundo e de si mesmo: “Mundo mundo vasto mundo,/ mais vasto é o meu coração” – Carlos Drummond de Andrade - e, parte criador, anseamos dar expressão à vastidão de noossos sentimentos “Tenho apenas duas mãos/ e o sentimento do mundo...”, ainda Drummond.

Se a poesia, como já disseram, é a arte de captar o belo por meio da palavra, é também capaz de abordar com maestria as dualidades vida e morte, alegria e tristeza, amor e desamor, o que é do homem e o que é de Deus. Necessária ao espírito humano, fomenta-nos o ânimo para penetrar o indizível, tudo o que existe além do tempo e do espaço sem afugentar de nós o desconhecido. Em “Criadores de Mantras”, o escritor e crítico Anderson B. Horta escreve: “ a poesia não é escolhida, mas escolhe seus poetas (e, aqui, como nas santas palavras, vale a máxima, muitos são os chamados, poucos os escolhidos), e também decide o seu modo de vir a ser.” –Thesaurus Ed. – 2007.

Nem todo aquele que faz poemas é poeta. A poesia escolhe o modo de se apresentar ao mundo através de seus escolhidos, contudo, a despeito de ser ou não escolhido como poeta, quem se dedica a ler, escrever e interpretar poemas é agraciado por Euterpe e Erato, musas da música e da poesia que lhe fazem ressoar na alma doces melodias da flauta e da lira. Tocado pelas musas, torna-se capaz de andar com poesia sem se importar com os sapatos. Benditos os que promovem a poesia através de concursos, festivais e torneios; suas louváveis iniciativas favorecem oportunidades para que a poesia possa escolher seus poetas e as belas musas toquem aos que trabalham durante meses para o sucesso desses eventos, a exemplo da escola Plínio Rodrigues de Morais de Tietê e Prefeituras do Município de Tietê e Cerquilho/SP.

São eles fomentadores de fenômenos poéticos que embalam o vasto sentimento do mundo.

segunda-feira, 21 de março de 2011

Silenciar



Silenciar


Não dizer

nem vibrar os pensamentos.

Silêncio absoluto do vazio.

Escutar...


Apenas silenciosos núcleos

fecundos

em explosões

nos espaços limitados do corpo.

Ilimitados na alma...




Abrir-se


Como as flores se abrem em abril

entre o verão e o inverno

flores raras....



Fechar-se


Como as palmas

ao vento

no crepúsculo,

antes do dia

ao chegar a noite...

Gustav Klimt - O Beijo


segunda-feira, 14 de março de 2011

Vento


Vento que balança as palmas do coqueiro
e de Portugal traz-me suas velas.
Vento, o seu presságio não é o primeiro,
hoje a solidão me leva a navegar,
viver não é mais preciso...
Como discreta nau lusitana
irei, na solidão, ao vento.
Ventos longínquos que a dor conhecem
pois que navegaram muito longe, mar adentro,
em suas velas sopraram seus lamentos
marujos, poetas, descobridores, aventureiros...
E das velas, traz-me, ó vento
de Camões alguns versos de alento:
"Tão brandamente os ventos os levavam
Como quem o céu tinha por amigo:
Sereno o ar e os tempos se mostravam,
Sem nuvens, sem receio de perigo...
O promontório Prasso já passavam,
Na costa de Etiópia, nome antigo,
quando o mar, descobrindo, lhes mostrava
Novas ilhas que em torno cerca e lava..."
E o sopro nas palmas da poesia
que me mostra o Céu por amigo
descobriu o mar
que em mim habita
e ilhas que do naufrágio me salvam ainda.
Solitárias ilhas onde acolho náufragos
navios, barcos, velas...
e os corações ainda ardentes
dos bravos navegadores
e seus lusos marinheiros.