Conversa
entre João Sabaiá e Manuel do Rego
- Do livro das Incomodações - Zelita Matraqueira
A breve
história começa debaixo de um jatobá carregado de frutos.
- Q’uinda
mar lhe pergunte, Sabaiá, sem mardade alguma da parte minha, - donde é qui anda
a tar Maria de Zé Gomes?
- Maria, mais
cá num anda, home. Maria é coisa de rio, moça qui vira cobra d’água. Ind’onte vi
a serpentinha na pió das horas do tempo, vestida co’as roupa
que Eva deixou na porta do Paraíso. Desceu boiando pras banda donde o rio e a
curva fazem cabeceira pra mor de sentir perfume da flor do jambeiro-vermelho.
- Conte
mais, home, conte... insistia Manuel. Sem as roupa de baixo?
O homem
estava curioso de só se ver.
- Acha que
eu minto pra ocê, Manuel?Espanto
num me fartô de vê aquela moça linda levada nas água da tempestade, sem roupa,
nem de cima nem de baixo, só uma frorzinha amarrada...
Foi’ntão
que ela virô aquels zóinhos pretos de
jabuticaba e com riso matreiro
caçoou de eu:
‘Medroso!
– Quem boia pra
cima de água
Num tem medo
de correnteza.
Só se afoga
e morre nela
Quem num sai
da profundeza.’
Etelvina,
moça prendada e estudiosa, filha de Manuel do Rego que escutava a conversa,
saiu com esta:
Queria ser
iguarzinha Maria!
Áarah, toma tento, peste de menina. Vórta pra casa e vê se num
sai mais de dentro! Te vejo no quarto do
fundo!
Etelvina
correu pra dentro do quarto do fundo e os dois, João Sabaíá e Manuel do Rego continuaram a prosa, a falar de Maria, filha de Zé Gomes.
- Nada de mardade,
diziam com ares satisfeitos, é só constatação. Que caia um desses fruto cascudo em nossa cabeça se é que assim não é.
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