Felicidade possível
Falar sobre a felicidade parece
fácil. O tema, no entanto, é polêmico e, ainda que milhões de pessoas digam que são felizes, é
difícil acreditar em felicidade plena.
Vejo a felicidade através de
um caleidoscópio cujos fragmentos de momentos felizes refletem-se num jogo de
sensações e impressões que mudam tão rapidamente, sem nos darmos conta dos
acontecimentos que a geraram. Talvez daí a expressão: “Era feliz e não sabia”.
Momentos de estado de graça
e iluminados são fugidios, quando não acontecem ficamos frustrados e buscamos
revivê-los a qualquer preço, é como se houvesse um paraíso perdido em algum
lugar do mundo que ansiamos reencontrar girando o caleidoscópio das lembranças
prazerosas. Essa felicidade é de
natureza fugaz e se nutre das nossas ilusões imagéticas, num eterno sem-fim. O poeta Vinicius de Moraes falou dela na
poesia da música “A Felicidade” que
compôs em parceria com Tom Jobim:
“Tristeza não tem fim, felicidade, sim. A felicidade é como a pluma que o vento vai levando pelo ar. Voa tão
leve, mas tem a vida breve, precisa que haja vento sem parar.”
Sem as imagens do
caleidoscópio das ilusões, ao mudarmos a direção do nosso olhar para a
realidade e com muito esforço pessoal, é possível encontrarmos a felicidade no trabalho, no riso
inocente das crianças, no cumprimento cordial que nos transmite confiança, em alguma
coisa que criamos. A felicidade vem do frescor
da flor que nasce entre as pedras, do ninho
de passarinhos no galho da velha árvore, de um animalzinho que nos faz carinho
e nos olha docemente, um abraço sincero, a nuvem branca que desenha figuras
sobre o fundo de um céu azulado, o murmúrio do vento e das ondas do mar, o dom
de perdoar e ser perdoado, a chegada de uma nova estação, infinitos momentos que
enternecem a alma e deixamos passar despercebidos na maioria das vezes.
Quem sabe, por isto, em
outros versos da música, Vinicius de Moraes, ainda mais inspirado escreveu:
“A
felicidade é uma coisa boa, e tão delicada também. Tem flores e amores, de
todas as cores, tem ninhos de passarinhos, tudo de bom ela tem. E é por ela ser
assim tão delicada que eu trato dela sempre muito bem”.
Felicidade assim delicada merece
carinho e atenção.
E a felicidade heroica,
daqueles que lutam pela conquista de ideais humanitários pela paz e erradicação
de injustiças, essas pessoas que comovem milhões de pessoas no mundo a exemplo
de Madre Teresa de Calcutá e Zilda Arns, é uma felicidade de natureza solidária,
partilha a grandeza de sua alma com a humanidade e enfrenta enormes
dificuldades para salvar as vítimas da injustiça e da miséria. O olhar de Madre
Teresa e o sorriso de Dona Zilda Arns ainda contagiam milhões de pessoas e o
efeito de suas ações continuará salvando milhares de pessoas e crianças no
planeta por muito tempo ainda. A minha
felicidade, que não tem essa grandeza, fica delicada e contente em poder falar dessas
mulheres e das bênçãos que seus atos promoveram e inspiraram.
Enternecida em minha frágil
felicidade, também não cabe em mim o contentamento em ouvir e transcrever a
poesia de Vinicius de Moraes:
“A felicidade é como a gota de
orvalho numa pétala de flor, brilha tranquila, depois de leve oscila, e cai
como uma lágrima de amor.”
Revista Vitrini - Novembro 2013
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